terça-feira, 1 de janeiro de 2019

Os humanos inventaram a escrita quatro vezes

"A escrita foi inventada independentemente pelo menos quatro vezes na História humana: na antiga Mesopotâmia, no Egito, na China e na Mesoamérica.

Os sistemas dessas civilizações são considerados intocados, ou desenvolvidos a partir do zero por sociedades sem exposição a outras culturas letradas. Todos os outros sistemas de escrita foram modelados a partir destes quatro, ou pelo menos das suas ideias.

Há cerca de cinco mil anos, 30 cabras foram trocadas entre sumérios. Para registar a transação, um recibo foi esculpido num pedaço de argila com o tamanho aproximado de um post-it. Sinais geométricos simples representavam o gado e o fornecedor. Círculos e semicírculos registavam a quantidade trocada.

Hoje, esse recibo está exposto num museu como um dos primeiros textos do mais antigo sistema de escrita conhecido, desenvolvido por volta de 3.200 a.C na área do atual Iraque.

À medida que mais estudos são realizadas neste campo, o número de sistemas de escrita iniciais poderia diminuir ou aumentar, caso os arqueólogos encontrem evidências de que qualquer uma destas culturas copiou a ideia de escrever uma da outra ou de que outros sistemas de símbolos antigos existiam de forma isolada.

O que se sabe é que os quatro sistemas comprovados tiveram origens diferentes. Tais “verdadeiros sistemas de escrita” usavam símbolos gráficos para representar a fala sem ambiguidade, permitindo que pessoas alfabetizadas escrevessem qualquer coisa que pudessem comunicar verbalmente, para depois ler exatamente como pretendido.

Muito antes da escrita, as pessoas já registavam ideias e informações de outras maneiras. Por exemplo, desenhavam figuras para retratar eventos. Ainda hoje, existem sistemas alternativos como a notação musical, símbolos matemáticos e instruções desenhadas para a construção de dispositivos ou móveis para transmitir certos conceitos com mais eficiência do que a escrita poderia.

A ideia revolucionária de ter signos que representam a fala surgiu em culturas distintas e em diferentes momentos: por volta de 3.200 a.C na Mesopotâmia e no Egito, por volta de 1.200 a.C na China e por volta de 400 a.C na Mesoamérica.
História diferente, evolução semelhante
Os textos sobreviventes mais antigos vêm de contextos muito específicos, comotransações económicas na Mesopotâmia e rituais divinos na China. De uma forma geral, estes primeiros caracteres eram principalmente sinais pictográficos, descrevendo exatamente o que se referiam.

Por exemplo, na antiga escrita chinesa, “peixe” era representado por uma imagem reconhecível de um peixe. Alguns sinais também foram emprestados de sistemas simbólicos preexistentes, como emblemas, símbolos e motivos de cerâmica, com os quais as pessoas já estavam familiarizadas.

Com o passar do tempo, os ícones tornaram-se mais simplificados, de forma a serem mais fáceis de escrever, mas parecendo menos o objeto ou ação referente.

Noutro passo crucial, alguns caracteres passaram a significar sons, ao invés de palavras distintas e completas, embora essta substituição das palavras inteiras por símbolos fonéticos tenha ocorrido em grau e ritmo diferentes entre os sistemas.

A transição foi auxiliada pelo “princípio do rébus”: trocar uma palavra que é difícil de representar graficamente pelo seu homónimo, como usar a imagem de um “noz” para representar “nós”. Para ajudar a diferenciar caracteres com múltiplos significados, os sistemas também adicionaram marcadores semânticos que denotavam partes da fala e pistas de contexto.

Através de séculos de inovação, os sistemas de escrita eventualmente avançaram ao ponto de transcrever a fala. Isto impulsionou a escrita infinitamente além das suas funções originais, numa ferramenta capaz de gravar história e literatura.

Adotados e modificados por culturas vizinhas, os quatro sistemas persistiram por mais de um milénio. Enquanto os da Mesopotâmia, Egito e Mesoamérica eventualmente morreram, o sistema chinês permaneceu em uso contínuo durante mais de três mil anos." (Fonte: ZAP // Hype Science)

Pesquisadores descobrem como desapareceu 1º Império Mesopotâmico

"O Império Acádio, primeiro Estado mesopotâmico semita, bruscamente se desintegrou e desapareceu há uns 4.200 anos por causa de secas e tempestade de areia, que privaram a cidade de todas as reservas de água, revela estudo publicado na revista PNAS.

De acordo com a equipe de pesquisadores, civilizações surgem e desaparecem por várias razões, e as causas do desaparecimento do Império Acádio parecem controversas. A coincidência de tempo de grandes transformações com civilizações do Egito e do Vale do Indo, que são da mesma época, tem levado historiadores a proporem causa climática.

Sedimentos do mar Vermelho e do golfo de Omã, entre outros proxies paleoclimáticos, foram usados anteriormente para sugerir que a Ásia ocidental experimentou pelo menos um grande período de seca nessa época, mas os dados eram imprecisos para garantir causa do colapso acadiano, segundo estudo de pesquisadores da Universidade de Oxford (Reino Unido).

A Suméria, o Antigo Egito e a civilização do Vale do Indo são as três civilizações mais antigas do planeta. Suméria, por exemplo, surgiu uns 6.000 anos atrás em forma de uma grande comunidade de cidades-estado que negociavam e hostilizavam um ao outro.

Em meados do terceiro milênio antes de Cristo, o rei Sargão, o Grande, conquistou todas as cidades-estado, unindo-as no Império Acádio com leis, regras comerciais e outros traços da civilização moderna. Apesar de ser considerada uma das potências mais fortes da época, ela desapareceu 200 anos depois de ser criada.
Os motivos do desaparecimento permaneceram sendo buscados por historiadores, que sugerem diferentes versões, desde insatisfação da população com autoridades centrais e luta contra Sargão e seus descendentes, até invasão de nômades que teriam devastado o país e minado o prestígio do rei.
Recentemente, pesquisadores começaram a sugerir catástrofe climática como causa do colapso da Suméria. Escavações na Síria mostram que o Oriente Médio, em 2200 a.C., enfrentou seca fortíssima que destruiu todas as grandes cidades na região.

Stacy Carolin e seus colegas encontraram primeiras provas sólidas dessa teoria, examinando estalactites, que se formaram durante últimos cinco mil anos em uma gruta no norte do Iraque.
Essas formações rochosas consistem em "anéis anuais", cuja espessura, composição química e isótopo refletem a quantidade de água na gruta em tempos diferentes de formação. Então, elas podem ser usadas como uma "crônica" climática que mostra mudanças em temperatura e nível de precipitações atmosféricas durante os tempos.

A gruta estava perto das regiões do norte do Império Acádio e tinha mais ou menos o mesmo nível de precipitações da Suméria, o que permitiu reconstruir o clima da época do colapso.
Pesquisadores descobriram que a primeira superpotência da Mesopotâmia foi destruída por razões climáticas. Uns 4,26 mil anos atrás, o crescimento de estalactites diminuiu bruscamente, ou seja, houve uma diminuição brusca de precipitações atmosféricas. A seca durou mais de três séculos, o que coincide com o tempo de renascimento da Mesopotâmia e aparecimento da Babilônia.

Além disso, pesquisadores registaram um crescimento de magnésio e cálcio nos "anéis anuais", o que fala do início de tempestades de areia. Os cataclismos deveriam ter acelerado o colapso da Acádia, privando seus agricultores da possibilidade de cultivar mesmo havendo muita água.

Vale destacar que não foi a primeira vez que secas e tempestades de areia sacudiram a Mesopotâmia. 

Há uns 4,5 mil anos, os abalos não foram tão prologados, durando apenas um século mais ou menos, mas podem ter sido fundamentais para enfraquecimento de cidades-estado e criação do império de Sargão, que desapareceria na próxima estação de tempestade de areia, concluíram pesquisadores." (Fonte: Jornal do Brasil/Sputnik)