quarta-feira, 22 de fevereiro de 2017

Giordano Bruno


A Idade Média foi marcada pela inclemente perseguição da Igreja Católica aos que pensavam e agiam de forma diferente dos dogmas cristãos. Não havia liberdade para criticar, duvidar ou contestar os assuntos referentes ao catolicismo. Sem o livre arbítrio, muitos daqueles que faziam criticas aos postulados impostos pela igreja foram consideradas hereges, rotulados de praticar bruxaria. Passavam assim pelo Tribunal da Santa Inquisição e morriam condenados às fogueiras, em praça pública.

Dentre estas pessoas encontra-se Fillipo Bruno, considerado um dos pioneiros da Ciência Moderna. Nasceu em Itália, no ano de 1548 e foi queimado vivo em 17 de Fevereiro de 1600. Foi filósofo, teólogo, matemático, e astrónomo. Entrou na Ordem dos Dominicanos, aos 15 anos, em 1566 quando então passou a ser chamado Giordano Bruno. Ali estudou filosofia aristotélica e a teologia de São Tomás de Aquino. Não aceitava imagens de santos, apenas o crucifixo e foi expulso da ordem por desviar-se da doutrina religiosa. Desde então passou a peregrinar pelo mundo ensinando filosofia e a arte da memória. Lutou pela união entre cristãos, protestantes e católicos enfatizando a tolerância religiosa. Em contacto com a doutrina protestante de Calvino, acusa o calvinismo de ser contrário a liberdade intelectual. Foi professor na Universidade de Paris, em 1581. Das suas obras escritas constam ‘As ideias humanas’; ‘Cantos Circenses e ‘Heróicos furores’.

Para ele, Deus transcendia a tudo e a todos, devendo ser procurado pela fé fervorosa, mais do que pela inteligência. Defendeu também o Panteísmo ao considerar que Deus estava em tudo o que havia na natureza. Nas suas elaborações filosóficas duvidava dos preceitos católicos da Santíssima Trindade e questionava a existência de um Deus único e exterior ao homem, reprovando a violência por parte da religião, tanto que se recusou, tenaz e obstinadamente, a retratar-se diante da suprema corte, o que resultou na sua condenação. Defendia ainda que o universo era infinito, preceito contrário ao da igreja, que preconizava o geocentrismo, considerando a terra o centro do universo. Assim, admitiu a teoria copernicana, relatando ser a terra apenas mais um planeta de entre uma infinidade de planetas e estrelas.

Afirmava que os sentidos não podem apreender o que somente o intelecto pode conceber. O que não se pode ver, Bruno remete a outros olhos, os de um ‘ver intelectual’. Ele coloca sob dúvidas e vê com cuidado aquilo que se testemunha pelos sentidos. Afirma que o infinito não pode ser objecto dos sentidos e, embora não sendo visível ou sensível, não poderia ser negado. Bruno dimensiona, aí, o infinito. Quem o negasse por não perpassar pelos sentidos viria a negar a própria substância e o ser. 

Ao intelecto compete julgar e dar a “razão das coisas afastadas no tempo e no espaço”, afirmava Bruno. Após a sua morte os seus contemporâneos silenciaram completamente, chegando ao extremo de remover o nome de Frei Giordano dos registos da Ordem de São Domingos e das universidades e academias em que tinha ensinado. As suas ideias extravagantes para a época influenciaram o Iluminismo, movimento europeu que lutou pela liberdade, principalmente religiosa. Assim operou uma verdadeira revolução desconstruindo a imagem tradicional do mundo e da realidade física, desconsiderando o cosmos medieval que daria lugar a uma “ciência nova”. Bruno, mostrando a sua irreverência, assim se expressou “só os espíritos mais fracos é que pensam com a multidão por ser ela multidão. A verdade não é modificada pelas opiniões do vulgo, nem pela confirmação da maioria. 

As suas ideias foram retomadas no século XX e sua contribuição metafísica e epistemológica marcantes. Segundo historiadores, ao ouvir a sua sentença de morte, Giordano Bruno disse a seus algozes: “Vocês pronunciam esta sentença contra mim com um medo maior do que eu sinto ao recebê-la“. (Ext. e Adap.: Daniel Santos de Castro)